O ano de 2009 em perspectiva: o melhor de...

os filmes do ano:

500 days of summer (c/joseph gordon-levitt e zooey deschanel)
year one (c/jack black e michael cera)
bruno (C/sascha baron cohen)
district 9 (produzido por peter jackson)
funny people (de judd apatow, c/adam sandler e seth rogen)
i love you man (c/paul rudd e jason segel)
observe and report (c/seth rogen e ray liotta)
paul blart: mall cop (c/kevin james)
taking woodstock (de ang lee c/demetri martin, eugene levy, emile hirsch, liev schreiber e mamie gummer)
up (pixar)
whatever works (de woody allen c/larry david)


os discos do ano:

it's not me, it's you (lilly allen)
invaders must die (the prodigy)
it's blitz (yeah yeah yeah's)
humbug (arctic monkeys)
them crooked vultures (therm crooked vultures)
la roux (la roux)


programas de tv do ano, nos canais nacionais:

30rock (primeira season, rtp2)
mad men (sextas à noite rtp2)
5 para a meia noite (rtp2)
dexter (season 3, mais uma vez rtp2)
the shield (última season, tvi)
Californication (segundas à noite, rtp2)
Weeds (segundas à noite, rtp2)
arrested development (quando calhava, tvi)
heroes (tvi)
bones (rtp2)
my name is earl (rtp2)
the big bang theory (rtp2)
NCIS (seasons antigas na tvi, novas na sic)
the simpsons (4ever!, rtp2)
chuck (rtp2)


os sítios do ano:

madrid (espanha)
armazém do chã (porto)
adega do povo (antas)
casa do alentejo (lisboa)
77 (porto)
o terraço (lisboa)
contagiarte (porto)
tokyo (lisboa)
praia do zavial (algarve)
alfama (lsboa)
rua do breyner e rua miguel bombarda (porto)


os sites do ano:

www.piratebay.org
www.facebook.com
www.zerozero.pt
www.imdb.com
www.btjunkie.org
www.bookmooch.com



etc...

o melhor de 2009 foram mesmo as pessoas que me fizeram sorrir. eu sei que isto parece muuuuiiiitooo lamechas, mas é verdade, e, felizmente, foram muitas as pessoas que me trataram bem e receberam troco na mesma moeda. obrigado! vocês sabem quem são!

quase nas livrarias!

a colectânea de contos "sonhando o que te contarei mais tarde" está brevemente nas livrarias leitura. também me podem pedir directamente (15 euros)! obrigado!

Curiosidades do dia

Um filme para ver: No sítio das coisas selvagens, com assinatura de Spike Jonze (não vi, mas tenho a certeza que não me vai desiludir)

Um frase do dia, ou isso: Não minto a ninguém, apenas à minha mulher, com assinatura de Jaime Pacheco (não discordo, eu faria o mesmo se fosse casado)

Situação estranha:

Eu (para um barbudo obeso que ouvia o relato na rádio): quem está a jogar?
O Barbudo Obeso (com uma voz rouca e lenta cmo um caracol): O Sporting contra a Alemanha...
Eu: E quanto está?
O Barbudo (aparentemente desiludido): a Alemanha ganha um zero...

Fiquei a fantasiar com o Sporting a jogar contra a selecção da Alemanha... Obviamente era apenas o Hertha, mas mesmo assim... A Alemanha!

sonhando o que te contarei mais tarde

estimativas apontam para dia 23! a data em que o livro estará pronto... já sabem em que gastar uma ínfima parte do subsídio de natal :)

sonhando o que te contarei mais tarde

segundo a prezada HM Editora, o livro está "brevemente disponível"~:

SONHANDO O QUE TE CONTAREI MAIS TARDE



(brevemente disponível)



Sonhando o que te Contarei mais Tarde de Hélio Teixeira, é uma deliciosa colectânea de 16 contos, que prometem surpreender o leitor, quer pela sua originalidade, quer mesmo por alguns dos seus finais desconcertantes. Os contos presentes são:

O Anjo Azul; Estocolmo; Ossos do Ofício; Na Cidade; E foi assim que me tornei um prostituto masculino; A Noiva Esquecida; Desmarx; No Sonho; O Telefonema; Da Primavera e do Outono; Sinestesia; A Soberba ; O Canto da Sereia; Tínhamos ambos 19 anos e sonhávamos o futuro como se faltassem eternidades; Pássaro Enjaulado.

(ver em: http://www.hmeditora.com/)

Ossos do Ofício - excerto



A rua estava apinhada, como de costume, e a tarefa de a atravessar parecia uma missão impossível. Senti os ossos ranger quando media a distância para a passadeira: 20 metros (no mínimo). Teria que atravessar fora dela, 2 faixas de rodagem, num só sentido. Esperei uns bons 9 minutos até detectar um espaço entre os carros que passavam e aqueles que pararam na passadeira. Felizmente um grupo de turistas japoneses decidira atravessar a rua em cadência lenta. Era a minha grande oportunidade. Quem me visse pensaria tratar-se de um paralítico. Se estendesse a mão e murmurasse umas palavras de súplica, era bem capaz de receber uma moeda de um transeunte mais distraído, que não reparasse no fato e gravata!

Google Street View 2











Google Street View

Ontem fui atraído cosmicamente para esta aplicação da internet, não sabendo bem porquê. Logo descobri quando decidi ver uma rua do Porto, fiz click lá para os lados da cedofeita, que é uma zona gira e na moda, e não é que calho na rua do Breiner? Logo na rua do Breiner, onde morou a... olha, não é ela ali à frente, faço zoom... é éla!
Aqui está aprova do crime:

As Horas em que Fugi do Sanatório Escrevi-as num Bloco de Notas Roubado



eu por mim
ficava eternamente
neste limbo
de emoções fortes
e suaves como
uma pluma.
deixava-me
derreter
com os olhos
de quem passa.


já agora
reservava
um lugar no céu
para descansar
a minha cabeça
dormente.
o mundo assim
o quer,
que eu adormeça
enquanto tudo
se processa...

Sonhando o que te Contarei mais Tarde - primeiros rumores

Ainda não há datas, ainda não vi o objecto em si, ainda não está pronto o design gráfico... mas raios, já me cheira a qualquer coisa. 16 contos por 16 euros... Um longo caminho desde 1996, quando vendi ao meus colegas de turma 3 folhas A4 dobradas, perfazendo 10 páginas, por 100 escudos, contendo uma coisa chamada Short-Stories (Black Cat Editions), escrita em inglês, sem saber bem o que estava a fazer.

Para já, quero agradecer imensamente à Ana "Alexia" Salgado, pelo empenho e pelo bom-gosto! Obrigado!

Thor-rei-dos-Deuses-do-meu-imaginário

I

Era uma vez Thor.
Thor criou o mundo à imagem do inferno.
Em 7 dias formou os mares, o firmamento e a Lua.
Criou também os pássaros-verdes-de-bico-amarelo.
Fez a escuridão brilhar com um sol azul.
Imitou o chamamento dos cães-púrpura-baixo.
Um rato saiu do azoto-inglório.
vermelho-branco às listas transmutado em luz-forte-600 imensamente 7.
Não mais foi lembrado como o tom que se cheirou perto da tristeza síncope obscura.
A Rua Imediatamente superior era ínfima televisão em directo retornável de valor Benjamin água-pé.
Maníaco-depressivo viu o céu pensado doutor ferramenta marquilla janela 38 inexperiente strap psicológico é decapitado sem cabeça nem parte de cima de algo.
Roda queima o luz rotativa entra ignora sai esquece 3 rosa-claro encostada ao inconformismo-latente da Suécia.
Antes espirituoso qual in pessoa sem fim fez melhor em activar o pau na engrenagem do extra episódio sepultura macaco ilha chave disco orgulho dor bem limpo sol pontapés amor verão carro cabeça abre rápido clássico olha...


II

Supôs um bom homem ser o dia ideal e a noite o mau.
Hoje não sabe a mulher desejosa descendente da mãe duplamente simples.
O rodopio de camisas era tão rápido que os dias passavam pelo transeunte imóvel olhando para o castelo em cores decadentemente alterando-se em gradação não crescente mas especialmente para ti.

A publicidade ao facto foi tanta que sempre que alguém caía, uma árvore futura era plantada por gente vinda de sítios remotos como Paris ou Swazilândia incrivelmente interessante aos olhos de uma rapariguinha impotente perante o verde-mau assustador da noite de outro planeta para onde fora transportada.


III

O sofá azul parecia-me extremamente excitante naquela manhã.
Assim decidi retirar o abat-jour de cima da estante dos livros mexicanos.
Mais espaço sobraria para os divagadores fluírem os seus pensamentos líquidos anti-morte horrenda nuns papéis que estavam mesmo aqui pousados ainda ontem!
Onde os puseste minha puta!
Nem assim o cenário me pareceu válido às 4 da tarde olhando o nascer do sol do ano passado com uns olhos azuis e lábios vermelho-desejável, que lindo...
O toque sensível nos cabelos longos parecia interminável, se bem que ao mesmo tempo me apetecesse apenas uma bebida fresca, talvez uma cerveja importada directamente de Chicago/Detroit com a barra bem acentuada.
Uns petiscos chineses iam a condizer também com aquele suave perfume a belo-dejá-vu.

IV

― Deve indicar o atalho para a morte?
― Sim, talvez quanto mais tarde pior...
― Mas não será um infinito?
― Como...!?
― Não sei... não será... um infinito-fundo?
― Não será isso o principal problema, mas, de facto, foi bem visto.
― Claro que foi!
― Ora, não foi nada...
― Pois não, tem razão doutor.
― ... “que é capaz de tratar a Catherine melhor que o mundo o tratou a si”...
― Onde quer chegar?
― Estava só a referir que se as lágrimas caírem por amor são apenas condições para uma vida livre de desilusões... ou qualquer coisa assim.
― ...
― ...
― Não se preocupe.
― Exceder-me-ei se disser que o amo, Frank!?
― Hein?...

500 days of summer


há 500 razões para ver este filme...
vou deixar-vos aqui apenas 5 para não ser muito chato:
a) aquele toque cinematográfico de cinema europeu, que nos faz lembrar, por exemplo, O Fabuloso Destino de Amélie.
b) é uma estória triste que nos faz rir amiúde, tanto nos pormenores como na mensagem
c) a típica situação Boy Meets Girl nem sempre acaba bem, e isso é bem explícito desde o início, bem ao jeito de Vonnegut.
d) Zooey Deschanel, a actriz com os olhos mais perfeitos de Hollywood, desde que a vi pela primeira vez em Yes Man, e que, casualmente, é irmã de Emily Deschanel, mais conhecida por Temperance "Bones".
e) Joseph Gordon-Levitt, o puto do Terceiro Calhau a Contar do Sol, que cresceu e se tornou num homenzinho, mas não perdeu a piada e até faz filmes com o Mickey Rourke (não me lembro do nome do filme agora, mas tenho-o por aí...)

Não Aconteceu (a sorte)

E fui atingido por um carro
em andamento.
Fiquei dorido,
caí forte contra um
chão de alcatrão e cimento,
e uma rapariga tentou beijar-me
na boca,
e eu gostei,
tanto que quando pude
apalpei-lhe as mamas,
na lama
que se formava
à chuva da noite
na nossa casa de férias.
Foi lá que conheci
a minha empregada predilecta.
Levava-me comida à cama,
quando eu adormecia
ao som de grilos
lá fora.
Cheirava a relva cortada
quando ela me apareceu
pela primeira vez,
e me deu um comprimido
proibido.
E eu pensei que a amava,
porque ela me amava
todas as noites.
Fui enganado,
como todos os outros.
Sentei-me na cadeira,
na sala de espera,
no hospital,
no fundo da noite
onde me destruiu
a droga
(A Droga! – disse ela alto),
Veio a enfermeira
com um comprimido,
azul.
― como se chama?
perguntei-lhe
(à enfermeira)
― Eu ou o comprimido?
disse ela.
Lembrei-me da minha ama
quando eu tinha dois anos
e estava nu
contra o chão frio
da tijoleira.
Do outro lado da porta
o meu pai tossia,
e a minha ama
castigava-me
na barriguinha.
Não devia ter 3 anos,
e segurava na mão
a mangueira
de lavar o pátio, o lá de trás.
E o jardineiro
mostrou-me
como segurá-la.
A filha dele
não dizia nada,
era muda como uma porta
fechada.
Falava-me com as mãos.
Excitava-me com os pés.
Eu não a percebia,
mas gostava,
e,
ao fim do dia,
era nela que pensava.
Era dura,
a vida naquela altura,
nos Invernos
brincávamos aos tropas,
e rastejávamos na lama.
Eu, o comandante António,
e o cabo Custódio.
Eles queixavam-se
da falsidade
das armas.
E eu dizia que:
― São apenas pormenores
(técnicos)
Mas não o sabia dizer,
tinha 7 anos
e era ignorante
como os outros.
Aos 9 anos
conheci a subtileza
da mesa
de operações.
Correu bem
disse o doutor
após 2 anos
na ala pediátrica
do hospital.
Foi teimoso em me salvar,
eu tinha a cara desfeita
dos estilhaços
das granadas
das guerras
de imitação
da bouça
da minha tia.
Eu, o comandante Simões
e o praça José.
Confiava neles,
mas apontaram-me uma arma
e deram-me um pontapé
no meio
do mato.
Estava escondido
do inimigo
imaginário.
Chegou a Março
e decidi sair
de casa.
Eram 3 meses
fechado.
A minha cara
tinha estado sarapintada.
Pensei que era varicela
mas a enfermeira Daniela
disse que não era nada.
Caí na bicicleta,
quem sabe nunca esquece,
mas eu esqueci.
No primeiro buraco
que encontrei,
caí.
Dava o Benfica-Porto
na televisão
e eu tinha ficado
num buraco
no meio do chão.
A ambulância veio
atrasada,
eu…
eu fiquei com marcas
permanentes.
Pensei que partira
o nariz,
mas foram só 2 dentes.
No hospital
perguntaram-me se morrer,
se morrer…
Eu não quis ouvir o resto.
Afectava-me.
Afecta-me!
Essa morte,
de que tanto falam.
Fiquei grávido
de ideias
de morte,
e suicídio
que planeei
todas as dores
que tive na vida,
só para me preparar.
Contudo
o medo ficou para sempre.
De carros
a levar-me no ar,
de raparigas
que há para casar,
de golos
que há para marcar.
Preferi
o sossego
do sofá,
ao domingo de tarde,
quando as famílias
não saem de casa,
e não se chateiam
umas com as outras.
Os passos que
dou,
sem segurança,
são as estreias
dos meus piores receios
de criança.
Regresso aos anseios,
àqueles que não sabia
ter,
como uma música
que volta ao refrão
só que não o tem.
É um buraco
em branco
que preenchemos
com as memórias
que não existem.
Tortas,
difusas,
factuais,
grandes,
diferentes do bonito…
Em simultâneo,
tinha 13 anos,
e cansei-me.
Na casa de férias,
junto ao mar.
Gaivotas arfavam
de prazer,
e o meu coração tremia
quando olhei pela janela
aberta.
Penetração?
Está aberta?
perguntei-lhe,
e ela disse que era
para entrar ar.
Fechei as cortinas
pelo menos.
Se me iam ver,
seriam sombras apenas.
subi o nível
da conversa
e disse ao terapeuta
que só aos 16
enfrentei
aquilo que hoje esqueci.
O meu motivo de estar aqui.
Aquilo que já não sei.
Foi culpa de meu pai,
disse-te,
mãe,
desligámo-nos,
desde pequenos.
Naquele dia
no shopping,
em que nos proibiram
a entrada.
Parecia
que já estava a ver,
quando ele me segurou
pelos colarinhos
e disse que eu
não percebi nada.
Será isso doutor?
O que quer ouvir
da minha boca?
No hospital
psiquiátrico
disfarçado
de escritório
de advogado.
O ladrão assaltou-me,
como disse à polícia,
pelas 17 horas
e 59 minutos.
Tínhamos planeado para as 6,
mas ele adiantou-se
e,
no entretanto,
vieram os vizinhos,
queixaram-se
e dispararam.
Um chumbo pequeninho
infiltrou-se
nas minhas pernas
de cobra selvagem.
Espremi sumo
de um limão
e apliquei faca fria
contra a ferida
que ficava feia
a cada minuto.
Peguei na sachola
e fiz de bengala
e dei à sola
devagar devagarinho.
A enfermeira
veio ladeira
e despachou-me
com dois abraços.
Senti-me trigémeos
tamanhos carinhos
me foram dados.
Não a conhecia
e já a desejava,
mas foi do comprimido
azul,
segundo me disseram
passado um bocado.
A terceira vez
não a posso contar,
porque foi com a minha prima,
mais velha,
e mais três amigas,
todas vizinhas,
uma morena
e duas loirinhas.
Foi uma festa de pijamas,
principalmente no meu.
Vi-me aflito
só para aguentar
o ritmo rápido
da corrida
à frente dos pais delas.
Mas a minha prima
nunca disse nada
e ninguém descobriu
que…
eu e ela…
vocês sabem
truca…
coisa e tal…
e marmelada.
Mais as vizinhas dela,
ao pôr do sol,
naquela mansão improvisada,
de fetos e folhas
no meio da bouça
de afectos e coisas
que não posso dizer.
A minha namorada
é que não descobriu.
Se descobrisse,
merda engolisse,
ou ficasse calada.
Com ela tentava
e não tinha nada.
Entretanto crescemos
e a vida,
como a julgávamos,
desapareceu
mesmo diante de nós.
Uma velhinha
disse-me um dia,
que da boa vida
só cheiramos um pouco.
Não sei se falava
de coca ou MD
ou do cheiro da massa
quando é ganha
sem fazer muito por isso.
Sei que não falava
do cheiro nojento
abjecto e dilacerante
de um hospital
à hora de ponta
de um acidente.
Que tive.
Marcou-me.
O braço.
Direito.
Abre e fecha a mão.
É o que estou a fazer.
Abre fecha abre fecha,
doutor, de que vale
se não tenho nada
a que me agarrar,
quando vier o carro
contra mim.
E ele disse
tiveste sorte.
Não é hoje ainda
que vais receber
o beijo
da morte.

Shangri-La Random Generator

On my way to Shangri-La, stumbled on The Internet Random Generators. i.e.= na tentativa de me ausentar da necessidade inescapável de ter sentimentos em relação a produção artistica, ou por outro lado, deixar de lado as inconscientes influencias do meu id na escolha de temas e nomes para contos e personagens, descobri algo que deve existir na internet há muito tempo, embora passe ao lado de muito boa gente, e sem escandalo nenhum, já agora. Falo da aleatoriedade: principalmente disponiveis em lingua inglesa, dezenas de Names Random Generators, Tittles Random Generators, Movie Plots Random Generators, Numbers Random Generators, Lists Random Generators... you name it, é só googlar.

Decidi fazer um exercício. Gero aleatoreamente um título e tento fazer uma sinopse de um conto possível. Aqui vai. (os títulos serão em inglês, para manter a originalidade do Random Generator) :

Final Voyages: um historiador desacreditado enceta uma serie de tentativas de chegar ao Shangri-La, apenas para morrer quando finalmente descobre o mítico paraíso, ficando assim incapacitado de mostrar o caminho aos seus colegas incréus.

The Austro-Hungarian Duke's Feminist Bride: Franz Ferdinand inicia um périplo pelo seu império, tentando encontrar a virgem adolescente a quem o sapato de cristal servirá. Finalmente encontra uma jovem sérvia, pela qual se apaixona e pede em casamento. Contudo, esta sérvia, de nome Radmila, é na verdade uma lésbica e acérrima feminista, que aceita o noivado para agradar aos seus pais, Bratislav e Valerija, burgueses enterrados em dívidas. A trama é resolvida pela amante de Radmila, Biljana, que se disfarça de homem e dispara sobre o Arqui-duque em plena rua.

Mais nos próximos posts...

Jay McInerney - The Good Life



Na ressaca de The Good Life, tenho de fazer um post mais abrangente, não só conectando este romance a Brightness Falls, mas falando também um pouco da obra notável deste senhor-ficção, que veio dos anos 80 (brat pack) para se tornar um caso sério de.... seriedade literária.


Do princípio: lançado na estratosfera pelo revolucionário Bright Lights, Big City, notável pela sua narrativa na segunda pessoa e abordagem directa e sem preconceitos ao sub-mundo nova-iorquino frequentado por uma certa classe yuppie cocainómana (adaptação ao cinema em 88 com desempenhos inesquecíveis de Michael J. Fox e Kiefer Sutherland), McInerney lançou depois uma série de romances que podemos dizer que se podem separar em classes distintas, apesar de terem quase sempre o background da Big Apple.



Assim, enquanto obras como The Story of My Life ou Model Behaviour estão na linha de Bright Lights, Big City, percorrendo ambientes mais boémios, pululantes de modelos agarradas e relações fugazes, uma outra estirpe de literatura mais canónica pode ser lida em Brightness Falls, The Last of The Savages ou The Good Life. Estes últimos romances abordam um outro tipo de ambiência, mais maduro, com personagens já na meia-idade, não poucas vezes recordando um passado complexo e típico das primeiras obras de McInerney, e geralmente vivendo situações de uma extrema seriedade, em contraste com os temas mais acessíveis e youth-friendly dos primeiros livros. Também em termos de prosa podemos dizer que há um contraponto entre a literatura mais directa em livros como Model Behaviour e a complexidade frásica de Brightness Falls, por exemplo. (Não é por acaso que pessoas como a Gaby e a Ana receberam bem as minhas propostas de leitura de A História da Minha Vida, As Mil Luzes da Cidade e Modelos).


Se The Story of My Life é modelos, cocaína e corridas de cavalos, e Model Behaviour é, mais uma vez, modelos, traição e media, The Last of The Savages é uma complexa abordagem aos tabus da américa sulista, envolvendo um triangulo amoroso improvável, amores inter-raciais, homossexualidade in-the-closet, a devassidão da cena musical dos anos 70, e o contraste entre o mundo Dixie e o dos prep schools e colleges de New England. Já Brightness Falls e The Good Life têm a característica de abordarem a evolução de um casal (Russel e Corrine Calloway), no primeiro livro vivendo o boom financeiro dos anos 80, apenas para descobrir a ilusão de um mundo capitalista que te alicia com o prospecto de uma vida luxuosa e te cospe logo de seguida quando tu falhas em conseguir acompanhar o bluff da cena toda.

No segundo livro, The Good Life, que acabei de ler recentemente, Russel e Corrine já têm filhos e, logo, um modo de vida completamente diferente, que é posto em causa aquando da queda das torres gémeas. Também o seu amor duradouro é posto em causa, com a entrada de uma personagem vinda directamente de Wall-Street, Luke McGavock. Casado com uma socialite de Nova Yorque, Luke envolve-se com Corrine e os dois vivem um romance tórrido na sombra dos trabalhos de resgate do Ground Zero. O abalo que os a queda das torres provocou nas suas vidas talvez seja o facto responsável pelo abalo nas institiuções familiares dos dois apaixonados, ou será que os seus casamentos se revelam finalmente a fachada que sempre foram, existindo apenas em benefício dos filhos, e o que existe entre Luke e Corrine é mesmo o amor entre duas almas gémeas? Descubra tudo em The Good Life.

Television



Há uma banda chamada Television, erroneamente (ou não) associada aos inícios do movimento punk na América (EUA), bandaesta responsável por uma obra-prima da cultura pop alternativa/obscura do século vinte: uma longa música que transborda de maneirismos deliciosamente barrocos chamada Marquee Moon, que tem tanto de punk como qualquer música dos Doors.


Longas músicas que não devemos menosprezar: This is Hardcore (Pulp) e The Sky Was Pink (Nathan Fake).



Mas quando intitulei este post de Television, queria ater-me ao objecto em si e a programas que transmite, que são, na verdade, o mais importante. Por si só, uma televisão-objecto só é interessante (desligada) naquele caso da JVC Videosphere, sendo que as imagens que constantemente são recebidas pelos aparelhos, provenientes de uma míriade de canais, são realmente o objecto de estudo de uma hipotética cadeira de Cultura VHF/UHF Contemporânea.


Só quando se sobe a Rua do Carmo se tem a noção do que estava a falar o António Manuel Ribeiro na música homónima dos UHF. Cada vez que a subo dou por mim a cantarolar a´melodia interiormente.


No que toca a pérolas televisivas deste Verão, o qual, quando não estava totalmente isolado de ambientes providos de electricidade, passei em frente ao ecrã, devo menosprezar produtos como Salve-se Quem Puder ou TGV, e elogiar a reprise em formato maratona (domingo, 6 de Setembro) de Um Mundo Catita (por momentos pensei que o Manuel João Vieira tinha morrido, pois aquando do desaparecimento do inadjectivável Raúl Solnado houve uma avalanche de repescagens dignas da RTP Memória; Afinal descobri que havia motivos de luto na família Vieira, mas por causa do João Vieira pai, pintor indispensável).



Também comédia é a série 30 Rock, em boa hora transmitida de segunda a sexta em dose dupla (todas as coisas boas deviam vir assim aos pares, como as cerejas). Tina Fey reina. Reina ao lado de Alec Baldwin e sobre uma corte de impagáveis personagens secundárias que destilam tonéis de humor gozando consigo mesmos e com as instituições que lhes pagam os ordenados (NBC e GE).




Num registo não totalmente isento de comédia, mas mais dedicado à investigação criminal, está a série Bones. Talvez uma das poucas séries do género, ao lado da mui aguardada NCIS, qu vale a pena acompanhar. É fácil perceber o que nos seduz: a relação ambígua entre Bones e Booth, uma cientista que faz parelha com um agente do FBI. A situação traz-nos à memória Dana Scully e Fox Mulder em X-Files, mas não é por falta de originalidade neste campo que Bones perde pontos. Antes cria uma situação de tensão que nos prende e nos motiva a acompanhar a evolução da relação entre as duas personagens. Aliás, a série vive das relações entre as personagens, algo que não é explorado de forma tão profunda e convincente em qualquer das franchises de CSI.



O futebol voltou também à televisão, trazendo as tristezas da seleção e as euforias do Benfica. A ver o que os guionistas nos reservam para o resto da temporada. Os próximos episódios serão premonitórios para o desenlace do trama, esperando os autores que no segundo caso haja finais. Finais felizes.

Símio

Símio
Hélio Teixeira


Dá-me um cigarro, pediu Inês, tentando disfarçar a sua cólera. Paula instintivamente pegou no maço e ofereceu-o diligentemente a Inês. Esta olhou-a desconfiada e, como que tendo a razão do seu lado, esperou altivamente. Paula tirou um cigarro do maço e alcançou o isqueiro pousado na outra extremidade da mesa. Acendeu-o ela própria e após expirar, satisfeita, uma baforada de fumo para o ar, entregou-o com naturalidade. Agora era Inês que fumava, disfarçando o seu nervosismo com leves movimentos da mão que levava o cigarro à sua boca. Por dentro sentia que o mundo todo lhe caíra em cima, mas exteriormente aparentava uma calma celestial. Por momentos olhou Paula de soslaio, apreciou a sua beleza e invejou-a. Ia pedir-lhe desculpa no preciso momento em que o telemóvel tocou. Era o seu. Tocou apenas uma vez. Pegou no aparelho e viu um número desconhecido.
Tenho de telefonar ao meu namorado. Venho já.
Paula assentiu. Ela própria já acendera um Marlboro e se recostara no sofá.
Inês não voltou. Atravessou a rua e sentou-se nas escadas de um prédio. Telefonou ao namorado e esperou.
Paula viu-a a entrar no carro do namorado e fechou a janela. Adormeceu no sofá.
Às 7 da tarde acordou com o barulho proveniente do andar de cima. Ainda é cedo, pensou. E tentou adormecer de novo. Não conseguindo, pegou numa revista, mas não conseguia ler. Ligou o televisor para logo o desligar. Tomou um duche e, enquanto se vestia, tentava decidir onde iria jantar.
Inês esperava atentamente ao fundo da rua. Escondeu-se na paragem do autocarro quando viu Paula sair do prédio. Aguardou que ela entrasse no carro.
Ao abrir a porta do apartamento, deparou-se com um papel no chão. Era um bilhete. Uma mensagem da Paula. Sentou-se no sofá e leu-a.

“Inês:
Fui jantar à cantina da faculdade. Chego tarde. Se quiseres podes aparecer no Atlântico lá para as 10 horas.
Quanto à nossa discussão ao almoço, queria pedir-te desculpa, embora eu tenha razão. Perdoa-me se fui agressiva nas minhas palavras.
Até logo.
Paula.”

Inês embrulhou o papel e deitou-o ao lixo. Abriu a porta do frigorífico e tirou dois iogurtes e uma maçã. Achou-se insatisfeita e comeu uma fatia do bolo que a sua mãe lhe fizera no fim-de-semana. Ligou a televisão e fumou um cigarro. Viu o concurso do canal 1 e um pouco da novela da 4. Saiu às 10 e telefonou ao namorado.
Olha môr, hoje não saio de casa. Não, não vale a pena vires cá, tenho umas cenas para estudar. Estou bem. Não posso, a sério… Sim… Amanhã almoçamos juntos, está bem? Eu também, um beijo. Até amanhã. Tá. Xau…
Entrou no café da esquina e começou a ler o jornal. Cinco minutos depois o empregado perguntou-lhe o que queria.
Um café por favor.
O empregado voltou com o café.
Noventa escudos por favor. Obrigado e boa noite.
Obrigada eu.
Ao sair ouviu chamarem por si.
Inês! Era Paula que gritava o seu nome. Onde vais?
Não sei. Ia ter contigo ao Atlântico.
Ainda é cedo!
Sim, eu sei. Ia a pé…
Ah.
Inês sorriu.
Paula sorriu também.
Olha, Inês, queria pedi…
Não, espera, eu é que te peço desculpa.
Paula não conseguia dizer nada.
Sim, tiveste sempre razão. Eu é que sou uma cabeça dura e descarreguei em ti os meus problemas…
Deixa lá…
Não deixo lá nada! Tinhas razão: o porco não é um símio, a girafa é que é.

Jonathan Safran Foer


Hoje queria escrever qualquer coisa sobre livros que tenho andado a ler, mas não me lembro do nome de um em particular, de Jonathan Safran Foer, esse geniozinho petulantemente precoce da literatura americana, atacado invejosamente por uns, defendido corajosamente por outros, todos grandes nomes da literatura mundial, senão mesmo norte-americana, desde Rushdie a McInerney.


Bem, o livro chama-se na verdade Extrememente Alto, Incrivelmente Perto (li a versão portuguesa, depois de inicialmente ter lido os primeiros capítulos nessa pequena descoberta que foi o The Unabridged Pocketbook of Lightning) Devo dizer que prefiro ler sempre a versão inglesa, original, por causa daquelas subtilezas próprias da língua totalmente intraduzíveis...


Anyway, a história é muito boa, as técnicas narrativas surpreendentes, o tema forte, a leitura quase compulsiva. Quase porque dá a sensação de já ter visto o filme em qualquer lado, mas não são todos os livros assim? Uma das maiores críticas que os mais acérrimos ofensores de Safran Foer puseram no papel virtual dos blogs que consultei sobre ele foi precisamente essa sensação de copy-paste. Devo dizer que tentei não me influenciar pelos comentários negativos, crendo fielmente como creio que é impossível criar a partir do nada. Ergo, nada pode ser completamente original. Devo dizer que reconheci influências de Auster, Salinger, Murakami e Vonnegut, tanto em termos de temáticas como de modos narrativos.


O Enredo, o que realmente interessa, centra-se em Oskar Schell, no seu pai falecido no ataque às torres gémeas e nos seus avós sobreviventes do holocausto. Muita matéria pesada para explorar e conferir um dramatismo pungente ao livro, repleto de imagens sugestivas, à laia de ilustrações, acabando numa sucessão de fotos de uma pessoa a cair no vazio de uma torre...


Leitura obrigatória para quem quer saber alguma coisa sobre alguma coisa (incluindo história dos séculos XX e XXI, literatura pós-moderna e outras trivialidades que o pequeno Oskar não se cansa de debitar devido à sua propensão para pesquisas na internet).


Estocolmo - excerto

Svensson costumava pensar nisso quando tomava o duche no final das oito horas de trabalho diário, não tanto com a preocupação de se inteirar sobre as consequências da falta de higiene, mas, porventura, como forma de passar o tempo, e, quem sabe, ter um pretexto sério para não falhar um acto que lhe daria mais prazer na banheira da sua casa, e não ali, naquele ambiente impessoal e, acima de tudo, intimidante. Não era a nudez masculina que o chocava, mas mais particularmente as acções de dois ou três operários que usavam o tempo no duche para se digladiarem em estúpidas brincadeiras infantis, empurrando-se uns aos outros contra as paredes brancas e azulejadas. Um começava por atirar o sabonete de outro para o chão e, enquanto este se baixava para o apanhar, logo outro o pontapeava no rabo, rindo-se pateticamente, e, quando Svensson dava por ela, todos eles se apertavam promiscuamente, lançando para o ar palavras próprias de adolescentes em estado de afirmação. Era frequente que acabassem o duche caídos no chão, rebolando-se de uma forma que nada tinha de erótico ou sexual, mas que denotava um regresso a uma infância longínqua.

Era pois como crianças grandes que Svensson via a maior parte dos seus companheiros de trabalho, lançando-lhes olhares de desprezo e, muitas vezes, gritando-lhes para que saíssem da sua frente quando, enojado da situação que se lhe apresentava, queria sair do espaço dos chuveiros.

Separação



Éramos 4 degraus de separação,
eu e ela, 15 kilos de comprimento
manifestaram o meu amor por cães.
― Vais a casa hoje, Anabela?
Fica comigo para contarmos as estrelas
e, talvez pelas 5 da manhã, dançarmos debaixo delas,
com cerveja nas cabeças,
a pedir para levar na boca,
boca, boca, boca…
para que te beije,
esses olhos confusos
de leite e queijo, pequeno almoço cruel
que nunca tivemos,
porque,
simplesmente,
eu adormeci

Jardim de Cimento - Ian McEwan


Quando penso em escrever algo sobre Ian McEwan, esse vulto enorme da literatura moderna, não concebo falar da sua obra globalmente. Antes tenho como obrigação moral e sentimental falar sobre cada livro de forma isolada, tamanha importância tem cada um deles na minha vida enquanto leitor (dos que li, quase todos, apenas Amsterdão me desiludiu).


A obra das obras, aquela que me introduziu a McEwan e me induziu a vontade de ler todas as outras, foi Jardim de Cimento. Quem já leu este livro sabe do que eu estou a falar quando digo que é absolutamente apaixonante, apesar da temática e do enredo serem de facto constrangedores. Não ficamos, porém, tão perturbados quanto fascinados pela natureza humana e seus limites (?) na fase da adolescência, quando lemos a história de quatro irmãos (Julie, 17, Jack, 15, Sue, 12, e Tom, 5 anos) que perdem o pai, inicialmente, e depois a mãe, cujo corpo escondem de forma abominável, passando a depender apenas de si próprios.


As circunstâncias permitem-lhes viver à margem das leis morais da sociedade, e a liberdade que têm é fatal, para o bem e para o mal, na viagem de auto-descoberta que farão. Por outro lado, os fortes laços que unem os quatro irmãos desencadearão estranhas promiscuidades e comportamentos desviantes, que eventualmente serão descobertos e expostos ao exterior, terminando num clímax final inesquecível.


A adaptação a cinema (1993) conta com Charlotte Gainsbourg como a filha mais velha, Julie...

Ficções No Feminino

Toda a gente devia saber que da América (U.S.A.) vêm provavelmente as melhores short-stories do mundo. É a minha firme convicção, especialmente no que toca a escritoras. O maior exemplo é a insuperável Flannery O'Connor, cujos contos sulistas estranham-se e entranham-se em nós como chuva num dia de calor. Perturbante, revelador, sublime, ou apenas um dos melhores livros de sempre, "A Good Man is Hard to Find", a literatura como devia ser. Recomendo-o como introdução à autora que morreu precocemente, mas que ainda assim nos legou obras-primas que lhe valem a consagração como melhor contista norte-americana sob a forma de um prémio anual com o seu nome para o melhor livro de contos editado na América.

Nos anos 70, 80, apareceram duas autoras que eu recentemente descobri. Tama Janowitz e Ann Beattie dignificam a tradição contista norte-americana, mas num registo mais pós-moderno, que serviu, certamente, de inspiração para os autores da brat-generation dos anos 80 (Bret Easton Ellis e Jay McInerney por exemplo). De Janowitz li "Slaves of New York", adaptado ao cinema ainda nos anos 80, e de Beattie, "Distortions". Ambas as colectâneas de contos são insights profundos de realidades específicas, no primeiro caso da comunidade artística de Nova Iorque, e no segundo de comunidades suburbanas e geladas de pequenas cidades do norte, onde as pessoas vivem de uma forma distorcida, sinais dos tempos... Nos dois casos, as autoras conseguem universalizar as situações, recorrendo aos universais temas das relações humanas e à análise profunda dos desígnios e aspirações de cada indivíduo em particular. Ocorre então uma identificação com os problemas insolvidos que cada personagem aparenta ter. Somos todos seres humanos mal resolvidos, num ou outro ponto das nossas existências. Se sim, estes livros são para ler, mas com o maior dos desprendimentos e nonchalantismo possíveis, porque a vida parece não ter sentido, e nada podemos fazer para mudar as coisas que são como são: apenas observar e registar.



Nome a seguir!

Jonathan Safran Foer!

Cultura Livre


Decidi disponibilizar os meus contos para quem os queira downloadar livremente.


Isto vem a propósito da minha solidariedade para com o Pirate Bay e outros bravos lutadores da liberdade na internet. É ilógico pensarmos na cultura, hoje em dia, como algo que, devido ao poder de compra, está reservada apenas a uma faixa da sociedade. Com o advento da banda larga, é mais fácil disponibilizar ficheiros de médias e grandes dimensões, via p2p, para que outros, conhecidos ou desconhecidos, possam ter acesso à arte e à cultura.


É o mesmo que emprestar um livro ou um dvd a um amigo. Desde que não ganhemos dinheiro com a operação, não há nenhuma ilegalidade cometida. Crime moral é vender cds a 20 euros e cobrar bilhetes para festivais a 100 euros! Não andamos a pagar por cultura, andamos a financiar os modos de vida boémios de cantores, actores, produtores, homens de fato e gravata que ganham dinheiro à custa dos outros (nós!), e que nos querem enganar, com o falso argumento de que, com esta libertação a que chamam de "pirataria", faremos com que percam biliões de dólares. Não será justo que gastemos esses biliões de dólares em coisas mais práticas como comida ou cerveja? Especialmente nestes tempos de suposta crise, em que as prioridades não devem ser ver a Britney Spears a fazer playback ou ouvir o último álbum com que os U2 tentam, de forma pouco criativa, somar mais uns milhões à sua gorda conta bancária.


É tudo marketing, é tudo negócio. É nisto que a arte contemporânea se tornou. Mas, temos o poder nas mãos, nós, o público. Sempre tivemos, apenas anteriormente era impossível ter acesso à arte sem elevadas somas de dinheiro, ou então, sem estarmos nas mecas da cultura mundial. Como é que há cem anos atrás um jovem de uma aldeia perdida em trás os montes, por exemplo, podia crescer a ouvir bandas americanas pouco conhecidas no seu próprio país e a ver filmes pornográficos japoneses, e isto quando quisesse, apenas ao alcance de um click de rato, como, repito, seria possível? Não seria. Hoje é possível, porém, ter acesso a tudo, praticamente. Não venham agora dizer-nos que não, que temos de pagar por coisas que achamos que não temos, pois crescemos com a geração anterior à nossa (e mesmo a minha) a fazer cópias de cassetes de música, que sabíamos serem autorizadas se fossem somente para uso pessoal e não para venda. E se a lei não era bem assim, era desta forma que a interpretávamos.


E se de leis falamos, não nos podemos esquecer que somos nós que temos o dever de eleger deputados que façam leis que nos protejam os interesses. Dou-lhes o exemplo do Partido dos Verdes alemão, que está a divulgar na sua campanha para as europeias projectos para leis mais adaptadas à realidade da partilha de ficheiros na internet, e não tão seguidoras dos desejos dos grandes lobbies americanos. A ver se não é tudo demagogia, e, nós, como cidadãos com direito a democraticamente nos unirmos em torno de causas que consideramos justas, teremos algum dia defensores em instituições de governo, quer a nível europeu como a nível nacional.


Por isso, honrando as minhas posições em defesa da cultura livre, usufruindo de serviços como o pirate bay ou o bookmooch, decidi dar os meus textos a quem os queira, publicando alguns, mais pequenos, directamente neste blog, e enviando os maiores, por email, a quem os deseje ler, tendo em conta que só enviarei um de cada vez, pois não sou adepto do spam e quero que as pessoas leiam com calma. Desta forma contorno também a inultrapassável barreira criada pelas editoras, que, ou pedem dinheiro para nos lançarem os livros, ou simplesmente não apostam em primeiras-obras de pessoas que não sejam já famosas da televisão. Claro que desejava um dia ter um livro meu editado, uma falha de personalidade chamada ego assim o deseja, mas não me vou tornar um fausto para lá chegar.


Aqui está a lista dos contos que tenho para enviar:


* Tinhamos ambos 19 anos e sonhávamos o futuro como se faltassem eternidades

* Carta ao filho

* Símio

* Perdidos & Roubados

* Howl Back

* Balada de um homem zangado

* Mores Ridendo Castigat

* Como Cães

* Da primavera e do Outono

* O apartamento

* Incidente com mulher estranha

* Dias de escola

* Menina X

* A maior mentira do mundo

* Amor com amor se paga

* Ossos do ofício

* Nightenders

* Desmarx

* Sinestesia

* Raparigas

* O anjo azul

* O canto da sereia

* A noiva esquecida

* O telefonema

* Memórias do que eu me lembro

* E foi assim que me tornei um prostituto masculino

* Estocolmo

* Na cidade

* Omnisciências servidas a frio ao jantar

* A soberba



Mailem-me para helioteixeira2005@gmail.com e recebam um ficheiro de texto que podem imprimir ou ler no vosso pc.


Cultura Livre.


4am free yr mind

Chuck Palahniuk

Mais do autor que rouba horas de sono à cama e nos surpreende a cada final de livro, verdadeiros hollywod twists.
Por um lado o consagrado Fight Club, levado ao cinema por David Fincher, com excelentes interpretações de Edward Norton, Brad Pitt e Helen Bonham-Carter. Toda a gente já deve conhecer a história de Tyler Durden e dos seus macacos humanos que através de Clubes de Luta tinham por objectivo destruir o mundo capitalista ocidental.




Por outro lado temos o recém adaptado ao cinema Choke, a história de Victor Mancini, um viciado em sexo que chega a pensar que é o filho de Jesus Cristo enquanto tenta perceber o que a sua mãe alzeheimerizada lhe tenta realmente dizer.




Leituras altamente recomendáveis, nota 48, de zero a 20, pela criatividade literária do homem, dos seus enredos quase inimagináveis, pelos momentos em que ficamos de boca aberta, pelos momentos em que somos obrigados a pensar que o mundo é mesmo assim. Obrigado sr Palahniuk.

Snuff - Chuck Palahniuk


Livro intenso. Intensamente divertido. Intensamente enjoativo. Intensamente informativo. Intensamente bem escrito e bem estruturado. Como tudo o que tem vindo da cabeça do génio Chuck Palahniuk.


A estrutura do livro faz-me lembrar o Perdidos na America (The Anomalies) do Joey Goebel, mas aposto que este foi escrito antes (tenho de confirmar). A trama narrativa aborda uma tentativa de bater o recorde de maior gang-bang porno movie. Ou seja, uma actriz porno e 600 homens, à vez, em cima dela. Um desfecho surpreendente e incrível, bem palahniukiano. Não pára de me surpreender, este homem.

Estocolmo


Serve a presente para informar que o conto denominado Estocolmo, deste vosso signatário, foi publicado na colectânea Jovens Escritores 2008 (IPJ - CPAI), à venda em apenas 2 locais, na livraria Bucholz do Chiado e no Clube Português de Artes e Ideias, ambos no Largo Rafael Bordalo Pinheiro, em Lisboa.


Da colectânea, que já li, destaco também o conto "A mulher do Henrique acorda-o às oito e um quarto", de Frederico da Costa.

Slaughterhouse 5


Obra-prima da literatura. ponto. Nada de classificações banais como "ficção cientifica" ou "literatura de guerra". Com este livro, Kurt Vonnegut definiu novos parametros nas possibilidades imensas do story-telling.



Slaughterhouse 5 - The children's crusade (Matadouro 5 na tradução portuguesa) conta a história de Billy Pilgrim,, um optometrista que viveu o pior bombardeamento da história da humanidade na segunda guerra mundial. Não, não foi em Nagasaki, nem em Hiroshima. Foi em Dresden, e com bombas convencionais, i.e., não atómicas. Dresden era conhecida como a Veneza do Elba, e os Aliados conseguiram, numa noite primaveril, destruir uma das cidades mais bonitas da época, uma das poucas que tinha escapado à guerra até então por não ter alvos militares alemães, mas acima de tudo mataram mais de 100 mil pessoas inocentes em poucas horas, só para mostrar aos nazis que não estavam ali para brincar...



Billy Pilgrim, prisioneiro de guerra, está entre os sobreviventes e fica marcado para toda a vida pelos horrores da guerra. Por isso e pelo facto de conseguir viajar no tempo, através da sua vida. Ou seja, anda para trás e para a frente, saltando de momento para momento: vai para a cama em 1945 e acorda em 64, compreendendo a relatividade do tempo e aceitando o destino como algo imutável, tal como lhe explicam os habitantes do planeta Tramalfadore, para onde é raptado durante um periodo da sua vida para ser exposto num zoo juntamente com uma estrela de filmes porno de 20 anos. Curiosamente, esta habilidade para viajar no tempo dentro de si mesmo é re-aproveitada pelos escritores da série Lost, que fazem o mesmo a Desmond Hume.



Um enredo só por si interessante demais para virar a cara ao lado e ignorar um dos pequenos livros mais fantásticos que alguma vez vos poderão chegar às mãos. E depois o modo de por as cartas todas na mesa e contar a história sem rodeios de Kurt Vonnegut Jr é qualquer coisa! Uma inspiração!



Nota 36, de 0 a 5.

Paul Auster


de Paul Auster há uns quantos livros que já li e recomendo. Se o nome lhe é desconhecido, fique sabendo que o tipo é de Nova Iorque, e escreve abundantemente com a cidade como pano de fundo. Considero-o um narrador acima da média, cheio de imaginação e simbologias interessantes. Destaco, assim de repente: O Palácio da Lua, Música do Acaso, Book of Illusions, Brooklyn Follies, Trilogia de Nova Iorque, O Livro Vermelho, Viagens no Scriptorium, Mr. Vertigo e A Noite do Oráculo. Li estes e mais algum que me deve escapar agora. Precisava de um blog inteiro para dedicar à sua obra e às personagens inesquecíveis que persistem na nossa memória ao fim de tanto tempo. Por que é que me lembro de nomes como Sidney Orr, Lester C. Moore, Hector Mann, Marco Fogg ou David Zimmer? Porque deixaram qualquer coisa dentro de mim que dificilmente se extinguirá, um certo reconhecimento e identificação? Um espelho do mundo ou da humanidade?

De todos os livros, para iniciar, proponho Palácio Da Lua ou Música do Acaso, disponíveis certamente numa biblioteca perto de si, ou no Bookmooch, ou, se tiver que ser e a carteira assim o permitir, numa livraria. Os dois romances mostram-nos personagens que decidem, por motivos diversos e estranhos, disponibilizar o rumo de suas vidas ao maior e completo acaso, perdendo tudo o que é bem material, para encontrarem, inadvertidamente, algo de profundamente humano que é saber a verdadeira razão da existência. Talvez a tenham encontrado, talvez não, mas nós, os leitores, de certeza que encontramos motivos para sorrir finda a leitura dos ditosos livros.

Kafka à Beira Mar


Logo pelo título, Haruki Murakami nos remete para o seu mundo fantástico de intertextualidades e simbolismos. Os significados múltiplos que podemos retirar das intrincadas relações entre as personagens e as dimensões paralelas onde se movem, são imagem de marca deste autor japonês pouco ortodoxo que anda a deixar muita gente colada.


O protagonista Kafka, de 15 anos, rouba o seu nome ao autor de O Castelo, e tem um alter ego chamado Rapaz-Corvo, que o incita a fugir de casa e do seu pai. Curiosamente, kafka significa corvo. Kafka vai encontrar um estranho amor numa província distante, percorrendo um caminho repleto de personagens enigmáticas. Kafka parece viver entre a descoberta da sexualidade da adolescencia e o mundo do sonho e do amor platónico.


O outro protagonista chama-se Nakata, um velho, e também vai ser atraído à mesma província distante, encontrando pelo caminho personagens ainda mais fantásticas e icónicas da cultura de massas ocidental, absorvidas sofregamente pela juventude nipónica. Os principais atributos de Nakata são falar com gatos e fazer chover estranhos objectos do céu. O seu inexplicável instinto vai resolver as linhas soltas de um enredo surpreendentemente apaixonante.

bookmooch

para quem acha que a pirataria é uma coisa útil ao espírito, senão mesmo à carteira.

para quem gosta de ler e quer ter acesso a livros que de outra forma nunca encontraria.

para quem acha que 15 euros por um livro é um abuso.

para quem tem uma estante cheia de livros a apanhar pó que nunca mais vai ler na vida.

para quem se interessa.

para quem usa a internet de uma forma verdadeiramente pragmática e não apenas para conhecer gajas no hi5.

www.bookmooch.com é a solução, o melhor sítio de troca de livros na net

Perdidos na América


Perdidos na América (The Anomalies) - Joey Goebel

Leitura rápida, apaixonante, surpreendente.

O autor é vocalista de um par de bandas punk americanas, e não se dá mal a escrever, com uma estrutura narrativa fora do comum.

As personagens principais são cinco elementos de uma banda de new wave power pop heavy metal punk rock, cada um mais estranho que o outro: Uma velhinha promíscua de 80 anos, uma riot girrl de 8 anos, um iraquiano amaricanizado, um enorme negro eloquente e uma ex-stripper filha de um padre em cadeira de rodas.

O enredo passa pela vida numa cidade pequena no sulista Kentucky, pela tentativa de alcançar a fama e rockar, pelos estereotipos de uma América eternamente decadente (ou será resplandecente?).

Nos dias que correm, de zero a cinco, seis.

Livro

Um Blogue sobre livros. Coisas com folhas e letras, que servem para ler, para entreter, acima de tudo.

Não é um blogue sobre literatura, nem para literatos. Um Blog para ler sobre o que ler. Porque há coisas que se querem ler, porque valem a pena, porque não são um completo monte de merda.

Um blogue sobre livros de Auster ou Murakami. Um blog sobre mim. Sobre o que escreve e porque escrevo. E sobre aquilo que leio enquanto escrevo, ou seja, aquilo que plagio...