Jay McInerney - The Good Life



Na ressaca de The Good Life, tenho de fazer um post mais abrangente, não só conectando este romance a Brightness Falls, mas falando também um pouco da obra notável deste senhor-ficção, que veio dos anos 80 (brat pack) para se tornar um caso sério de.... seriedade literária.


Do princípio: lançado na estratosfera pelo revolucionário Bright Lights, Big City, notável pela sua narrativa na segunda pessoa e abordagem directa e sem preconceitos ao sub-mundo nova-iorquino frequentado por uma certa classe yuppie cocainómana (adaptação ao cinema em 88 com desempenhos inesquecíveis de Michael J. Fox e Kiefer Sutherland), McInerney lançou depois uma série de romances que podemos dizer que se podem separar em classes distintas, apesar de terem quase sempre o background da Big Apple.



Assim, enquanto obras como The Story of My Life ou Model Behaviour estão na linha de Bright Lights, Big City, percorrendo ambientes mais boémios, pululantes de modelos agarradas e relações fugazes, uma outra estirpe de literatura mais canónica pode ser lida em Brightness Falls, The Last of The Savages ou The Good Life. Estes últimos romances abordam um outro tipo de ambiência, mais maduro, com personagens já na meia-idade, não poucas vezes recordando um passado complexo e típico das primeiras obras de McInerney, e geralmente vivendo situações de uma extrema seriedade, em contraste com os temas mais acessíveis e youth-friendly dos primeiros livros. Também em termos de prosa podemos dizer que há um contraponto entre a literatura mais directa em livros como Model Behaviour e a complexidade frásica de Brightness Falls, por exemplo. (Não é por acaso que pessoas como a Gaby e a Ana receberam bem as minhas propostas de leitura de A História da Minha Vida, As Mil Luzes da Cidade e Modelos).


Se The Story of My Life é modelos, cocaína e corridas de cavalos, e Model Behaviour é, mais uma vez, modelos, traição e media, The Last of The Savages é uma complexa abordagem aos tabus da américa sulista, envolvendo um triangulo amoroso improvável, amores inter-raciais, homossexualidade in-the-closet, a devassidão da cena musical dos anos 70, e o contraste entre o mundo Dixie e o dos prep schools e colleges de New England. Já Brightness Falls e The Good Life têm a característica de abordarem a evolução de um casal (Russel e Corrine Calloway), no primeiro livro vivendo o boom financeiro dos anos 80, apenas para descobrir a ilusão de um mundo capitalista que te alicia com o prospecto de uma vida luxuosa e te cospe logo de seguida quando tu falhas em conseguir acompanhar o bluff da cena toda.

No segundo livro, The Good Life, que acabei de ler recentemente, Russel e Corrine já têm filhos e, logo, um modo de vida completamente diferente, que é posto em causa aquando da queda das torres gémeas. Também o seu amor duradouro é posto em causa, com a entrada de uma personagem vinda directamente de Wall-Street, Luke McGavock. Casado com uma socialite de Nova Yorque, Luke envolve-se com Corrine e os dois vivem um romance tórrido na sombra dos trabalhos de resgate do Ground Zero. O abalo que os a queda das torres provocou nas suas vidas talvez seja o facto responsável pelo abalo nas institiuções familiares dos dois apaixonados, ou será que os seus casamentos se revelam finalmente a fachada que sempre foram, existindo apenas em benefício dos filhos, e o que existe entre Luke e Corrine é mesmo o amor entre duas almas gémeas? Descubra tudo em The Good Life.

Television



Há uma banda chamada Television, erroneamente (ou não) associada aos inícios do movimento punk na América (EUA), bandaesta responsável por uma obra-prima da cultura pop alternativa/obscura do século vinte: uma longa música que transborda de maneirismos deliciosamente barrocos chamada Marquee Moon, que tem tanto de punk como qualquer música dos Doors.


Longas músicas que não devemos menosprezar: This is Hardcore (Pulp) e The Sky Was Pink (Nathan Fake).



Mas quando intitulei este post de Television, queria ater-me ao objecto em si e a programas que transmite, que são, na verdade, o mais importante. Por si só, uma televisão-objecto só é interessante (desligada) naquele caso da JVC Videosphere, sendo que as imagens que constantemente são recebidas pelos aparelhos, provenientes de uma míriade de canais, são realmente o objecto de estudo de uma hipotética cadeira de Cultura VHF/UHF Contemporânea.


Só quando se sobe a Rua do Carmo se tem a noção do que estava a falar o António Manuel Ribeiro na música homónima dos UHF. Cada vez que a subo dou por mim a cantarolar a´melodia interiormente.


No que toca a pérolas televisivas deste Verão, o qual, quando não estava totalmente isolado de ambientes providos de electricidade, passei em frente ao ecrã, devo menosprezar produtos como Salve-se Quem Puder ou TGV, e elogiar a reprise em formato maratona (domingo, 6 de Setembro) de Um Mundo Catita (por momentos pensei que o Manuel João Vieira tinha morrido, pois aquando do desaparecimento do inadjectivável Raúl Solnado houve uma avalanche de repescagens dignas da RTP Memória; Afinal descobri que havia motivos de luto na família Vieira, mas por causa do João Vieira pai, pintor indispensável).



Também comédia é a série 30 Rock, em boa hora transmitida de segunda a sexta em dose dupla (todas as coisas boas deviam vir assim aos pares, como as cerejas). Tina Fey reina. Reina ao lado de Alec Baldwin e sobre uma corte de impagáveis personagens secundárias que destilam tonéis de humor gozando consigo mesmos e com as instituições que lhes pagam os ordenados (NBC e GE).




Num registo não totalmente isento de comédia, mas mais dedicado à investigação criminal, está a série Bones. Talvez uma das poucas séries do género, ao lado da mui aguardada NCIS, qu vale a pena acompanhar. É fácil perceber o que nos seduz: a relação ambígua entre Bones e Booth, uma cientista que faz parelha com um agente do FBI. A situação traz-nos à memória Dana Scully e Fox Mulder em X-Files, mas não é por falta de originalidade neste campo que Bones perde pontos. Antes cria uma situação de tensão que nos prende e nos motiva a acompanhar a evolução da relação entre as duas personagens. Aliás, a série vive das relações entre as personagens, algo que não é explorado de forma tão profunda e convincente em qualquer das franchises de CSI.



O futebol voltou também à televisão, trazendo as tristezas da seleção e as euforias do Benfica. A ver o que os guionistas nos reservam para o resto da temporada. Os próximos episódios serão premonitórios para o desenlace do trama, esperando os autores que no segundo caso haja finais. Finais felizes.