falsos haikais



Um filho meu desbastou-me da minha propriedade.
Como posso ser amistoso?


Fazes pinos e o caraças.
Um passarinho.
A tenda montada


Teus olhos corações, minha rosa.
Teu coração uma flor espinhosa.


Estás a fazer a digestão, senão…
Risos, lindos, putos.


Na espiral branca sofro.
Uma praga espiritual.
Ligo ao Mário e ele não atende.


Um bocado na terra, outro na boca.
Outro em França.


Falar é falar de uma cota sempre.
Vezes sem conta.
Alguém diz sim sem saber.


A minha t-shirt não diz coisas engraçadas.
Cheira mal apenas.
Bebé, vomito.


Cada cão tem o seu dia.
Levo as pedras para casa?


Apaixonei-me cem vezes hoje.
Jesus foi minha testemunha.
Gritei o seu nome tantas vezes quantas.


Por que é que não compras o que te vendo.
Adeus;
Adeus.


De hoje a quinze dias vais ter comigo.
Olha, pois é, a lua.


A bola caiu, na minha imaginação.
É grande.
Não te habitues.


Ainda é cedo para cantar vitória.
A música tornou-se um som.
Hino.


Sou uma experiência humana, não uma ferida.
Anseio por saber o resultado.


Anima-te brava.
O sol vai alto.
Irmã.


O barulho que ouves é o rastejar ruidoso que faço ao penetrar-te.
Ana, inútil Ana, (não tu.)


Lixeiro desastrado.
Mulher violada, riso na bancada.
Rima forçada.


A mão na cara tapa-te os olhos, na orelha o telemóvel.
Na boca, suicida.


Eu cá não gosto de conclusões precipitadas.
Só com sal; e sem chuva!


Já sei como me identificas.
Sou igual a ti.
Só que sem diferenças penduradas ao pescoço.


Uma gaivota branca planará airosamente.
Um gato de Schrödinger viverá para a comer.


Quero um gelado.
Vermelho.
Torrado.
Aos berros.
Quero outra coisa.
Quero lá saber.


Wayfarers nas caras de toda a gente.
Amarelos, verdes, azuis e pretos.
E coloridos!


Kommen sie.
Sprächen sie.
Adoro o teu cu.
Como o dizer na tua língua.
Como lhe meter a minha.


Já encaixo na tua estrutura deolindisíaca.
Não posso crer, foda-se!


A tua esperança é vã.
Quanto mais pensas menos segura estás.


Ó pá, aquela botelha de tinto, pá!
“― Diz lá!”
Ó pá, brutal, pfff!


Pequenas formigas laboriosas comei!
O mundo é vosso aí em baixo.


Também quero uns wayfarers;
Vermelhos e pretos, plásticos e na volta chineses.


Começaram as olimpíadas da foda.
O preto é a cor dos uniformes.
O preto está na moda.


O micróbio ganha sempre.
Um invisível David.
Eu sou o micróbio.


Eles falam, falam, falam, e não escrevem nada.
Não percebem a vanidade do vácuo e o vazio do vão.


Sou teu, querida.
Não chores mais.
Compreende que os dias passam e os corações se partem.


Eu penetrava-a arduamente.
Eu fixava-me naquele corpo e seria jovem para sempre.


O segredo de uma venda é a comunicação.
O outro é um sorriso.
O objectivo é tapar os olhos.


Pensei que o Phil vinha cá mas não veio.
O sósia dele elucidou-me.
O sol tem muitos anos.


Uma caixa de cartão misteriosa…
Se te sentes assim por que não disseste logo?


Eu estou aqui.
Mas qual é o significado de estar aqui?
A vários níveis inexplicável.


Aqui nesta parte dói tanto.
Não mordas.
Trinca.


É ininteligível para mim.
Li, reli, desli.
Não estou preparado para a tua tese antitética.


Eu tenho a minha velocidade.
Não me aceleres.
Nem me traves.
Sininhos.


Teus óculos escuros acho-os óptimos para a claridade destes dias de verão.


Uma praia azul.
Um fio de luz que permanece.
Pôr-do-sol fantasia.


Todos são vencedores.
Uns acreditam.
Outros não.
Debaixo de umas rugas que a idade não esconde.

Real Melancolia (excerto)


(...)

Quizo lo destino que Ángel Di Maria fizesse o primeiro jogo no seu regresso ao Benfica em solo espanhol (Villarreal 0-2 Benfica). Eu estava na bancada do El Madrigal, nesse jogo amigável de verão, quando Angelito marcou o primeiro golo da partida. Foi um livre directo soberbamente executado com o seu habilidoso pé esquerdo que levou a bola ao fundo das redes, deixando o guarda-metas pregado ao chão. O segundo golo, ainda na primeira parte, esse foi marcado por um cheval que não deve ser mais velho do que eu cinco anos. O miúdo da cantera benfiquista, Sílvio Pavlovsky, um loiro de cabelos semilongos, a fazer lembrar a antiga estrela da Juventus Pavel Nedved, pegou na bola no meio campo, passou por um, passou por dois, passou por três, simulou o remate, sentando o guarda-redes, e por fim tocou a bola por cima deste com um toque subtil de génio. Já lhe chamam o novo Messi, mas eu próprio já marquei um golo assim, no campo de cimento do colégio, com uma bola de qualidade muito inferior (mais parecia um saco de plástico inflado), e ninguém me chama o novo Messi. A imprensa chama-me apenas El Infanzón Olvidado. 

No final do jogo, os fotógrafos vieram e pediram-nos para posar para as fotografias do costume, impedindo-me de correr para o chico portugués para lhe pedir a sua camisola. Com certeza ma daria, em lhe explicando quem eu sou. Mas não, temos de ser diplomáticos e estar à altura da nossa condição de membros da família real, e assim não tive a oportunidade de me quedar com a camiseta de estreia de um futuro craque mundial... Fiquei ao lado de minha irmã, com os nossos pais por detrás. As suas mãos pousadas sobre os nossos ombros, como que eterno sinal de domínio. No final, como sempre, pedi ao paparazzi mais idiota do grupo, um tal de Diego Maldonado, para me mostrar a fotografia. Ele acedeu, claro. Mais uma fotografia de família para aparecer numa Hola! qualquer. O meu pai muito sério e já com os primeiros cabelos brancos a aparecer, a minha mãe com a sua beleza helénica clássica e discreta, a minha irmã sombria e de olhos baixos como o usual, e eu, finalmente, mais pequeno que todos eles, com as minhas sardas e olhos pequenos, orelhas demasiado grandes para a minha cabeça e dentes pequenos demais para a minha boca larga e aberta. Pareço o meu pai quando jovem, também ele tinha esta figura esguia e idiossincrática, mas cresceu para se tornar o caballero virtuoso e galã que hoje é. Do mesmo modo, eu espero crescer à sua semelhança, deixar esta minha aparência imberbe para trás e transformar-me num jovem ícone da minha geração com presença frequente nas capas da revista Bravo ou do jornal Marca, conforme o meu sucesso futuro.

(...)

Quando a minha irmã entrou em cena pela esquerda, graciosa e hábil no seu andar lesto em pontas, ninguém previa que a noite se transformasse naquele desastre total. O pé partido foi o menos, o que chocou realmente a imprensa e a opinião pública foi a minha gargalhada quando ela caiu abaixo do palco. Os comentários negativos começaram não quando coloquei o video da queda que filmei com o meu iPod no FailBlog (foi um êxito grandioso!), mas quando algum chico-esperto decidiu colocar no YouTube uma filmagem de mim a rir-me depois filmar a minha irmã a cair. Logo depois o vídeo foi parar também ao FailBlog e as suas visualizações subiram meteoricamente. Felizmente que na escuridão do auditório não dá para perceber muito bem os contrastes da minha aparência imperfeita, sou identificado na descrição do vídeo apenas como o "Infanzón Olvidado" que "RI-SE DA PRÓPRIA IRMÃ quando esta cai do palco e fractura dois ossos da perna". Claro que os erros factuais são imperdoáveis: ela não partiu dois ossos da perna, mas sim dois ossos do pé, minúsculas formações ósseas mais conhecidas como falanges e metatarsos. Além disso tive de ser eu a referir num comentário que eu próprio estava a filmar o acidente e que era o autor do vídeo original que foi o top das visualizações no FailBlog naquele mês. No entanto, e apesar dos críticas negativas sobre a minha pessoa pública que saíram nos velhos media, o meu nome figura hoje no Livro dos Recordes do Guiness como o autor do vídeo com mais dislikes no YouTube de sempre! 

(...)

A minha irmã é hoje uma pessoa mais completa. A perna que arrasta agora dá-lhe reais motivos para ser a gótica silenciosa e sofredora que sempre desejou ser.

(...)