On Chesil Beach





Quem já leu Ian McEwan sabe que não se consegue ficar indiferente a um livro do mestre inglês (excepto talvez Amsterdam). É aquele entrar-por-ali-dentro-das-personagens que nos faz delirar com a similaridade psicológica que une todas a a humanidade, mas ao mesmo tempo as separa. On Chesil Beach temos mais disso, mais identificação, mais envolvência; ansiedades, nervosismos, excitações e tristezas que sentimos na pele, causados por situações que têm o seu quê de familiares, apesar de nunca termos passado exactamente por elas.

On Chesil Beach leva-nos até 50 anos atrás, uma Inglaterra à beira da mudança social (e sexual), mas acima de tudo, leva-nos à confusão interior que todos sentimos em determinados momentos da nossa juventude. É querermos iniciar-nos no mundo adulto, positivamente anestesiados com a euforia da novidade, mas, em simultâneo, temerosos do desconhecido e da perda de algo que não sabemos ainda explicar. Edward e Florence estão numa posição dessas: recém-casados mas sem qualquer experiência sexual vêm-se forçados a lidar com as suas imagens exteriores de pessoas escolarizadas e supostamente conhecedoras dos hábitos do mundo, embora interiormente, como nos é dado a ver, sejam apenas sofram duma inadequação tal, normal aliás, tendo em conta a época e os costumes, que só nos resta rir dos momentos hilariantes e sentir pena dos enganos que levam à confusão e inseguranças. Tudo isto numa tarde de lua-de-mel num hotel de Chesil Beach, intercalada com flashbacks dos momentos mais importantes da vida do casal até então.

Sempre fui da opinião que há momentos e momentos para lermos um livro. Um jovem adolescente que leia On Chesil Beach vai tirar conclusões diferentes das de um quarentão. No meu caso, creio que fico tão excitado com certas passagens como um adolescente ficaria, com o bónus de não me deixar abater tanto pela melancolia como um velho se deixaria. Há um certo tom de esperança que se instala aos poucos na nossa mente, depois de uma certa revolta, quando terminamos de ler o livro. Essa esperança talvez signifique que ainda podemos fazer alguma coisa da nossa vida, apesar de erros passados, um pouco como o Mr. Scrooge nos Christmas Carrols. No entanto não me parece que a intenção do velho Mac fosse dar lições de moral, mas apenas contar (mais) uma bela e pungente história. Nós é que retiramos as nossas interpretações dos nossos armários sempre que vemos nalguma obra de arte um sinal para compararmos as nossas vidas com a ficção idealizada. Pensamos demais, isso é o que é. E isso é arte.

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