E Tu Pensavas Que A Tua Vida Era Uma Merda (problemas de primeiro mundo) - excerto


Um problema de primeiro mundo é, por exemplo, ir ao McDonalds depois de dez anos de propositado boicote e perceber que as coisas já não são como dantes. O meu pedido era simples: batatas fritas médias e um sundae de caramelo – sim, eventualmente acabaria por enfiar as batatas fritas dentro do gelado, muito melhor do que maionese ou ketchup.

O problema do primeiro mundo é que já não fazem sundaes de caramelo! O tempora, o mores! Onde é que o mundo vai parar? E eu acabo por fazer um mini escândalo no MacD dos Aliados, explicando ao gerente que, há dez anos atrás, aquele era o meu snack preferido em tardes outonais de sol retemperador. O homem ainda me veio com Skittles McFlurries ou sei-lá-o-quê, mas não é – nunca será – a mesma coisa…

No fundo, percebo que esta raiva inesperada emergiu de um sítio muito profundo dentro das minhas memórias mais nostálgicas envolvendo Novembros solarengos. Só assim posso explicar entrar num Mac. Sou averso ao corporativismo imperialista da empresa, à exploração mecanicista dos seres humanos que lá trabalham, aos métodos taylor-fordistas que presidem à concepção dos quasi-atractivos elementos do menu, ao ciclo de vida degradante e vergonhoso por que passam tanto os animais como “vegetais” processados e vendidos nas instalações impecavelmente assépticas da cadeia norte-americana. Além disso não como carne.

Mas, naquele início de tarde outonal, o sol brilhava demais, aquecendo-me a cabeça. Só pode ter sido isso. Memórias inconscientemente reprimidas entraram em ebulição e fizeram-me entrar num estado a que no passado chamaram de spleen. O motivo era ela, ela, ela. Só pode ter sido isso.

Por que razão teria eu então gritado a um gerente do McDonalds exigindo um sundae de caramelo para acompanhar as minhas batatas fritas médias? Não me conformei. Nem quando me ofereceram os lenitivos mas inúteis McFlurries, nem quando um McEmpregado mais corpulento ameaçou empurrar-me para fora do estabelecimento, nem quando só dentro da minha cabeça as coisas que eu dizia faziam sentido.

Na rua, finalmente, compreendi que o sol, aliado ao frio, aliado à estação do ano, aliado à recordação do dia em que a conheci, fez despoletar uma reacção que eu só posso qualificar de psicótica. Não seriam as hormonas as responsáveis. Tenho-as controladas a punho firme – geralmente o da mão direita. Não seria uma reacção química também. Não ingeri nada de anormal nesse dia. Só pode ter sido o inconsciente a ditar-me caminhos e procedimentos anómalos.

(...)






Animais Mortos (excerto)

  Passo número um: localizar o intruso. Passo número dois: controlar o seu espaço de manobra. Passo número três: conduzi-lo até uma saída. Tudo estava a correr conforme os planos. Confinei o pássaro a um quarto, fechei todas as portas do corredor excepto a da saída e finalmente abri a porta do tal quarto, de modo a que o pardal tivesse como única opção dirigir-se para fora de casa. Porém, o gajo não cooperava. Parecia stressado demais para parar um pouco e perceber que para lá da porta do quarto havia um corredor banhado pela luz do sol. Entrei no quarto, quase de gatas para não ser atacado pelo pardal frenético que voava ininterruptamente de uma parede à outra, como se fosse encontrar uma saída mágica dessa forma. Cheguei junto à janela e vi nela uma resolução rápida para o assunto. Quando me levantei para correr as cortinas para os lados, já não havia nada a fazer. Antes que pudesse abrir a janela propriamente dita, já o meu pequeno amiguinho se tinha espetado contra o vidro recém-descoberto. Estava agora caído no chão, imóvel. Ainda pensei que pudesse estar apenas inconsciente, ou mesmo a fingir a sua morte, mas não. Peguei nele e percebi que tinha partido o pescoço com o impacto. Morte imediata. Pelo menos deve ter sido rápido e indolor. (...)

Xmas Wishlist #1


1991 - When I think about you I touch myself

work in progress

29 de Agosto de 1991

O antepenúltimo dia de Agosto de 91 foi o primeiro do fim do Partido Comunista na União Soviética. Foi neste dia que o próprio Soviete Supremo proibiu todas as actividades do PC em toda a União Soviética. Caiu o partido, abriram-se depois as portas para o capitalismo. Uma era terminou. Na altura parecia que o mundo ia mudar, e para melhor, claro, pois a abertura da URSS continha uma mensagem implícita de união fraternal do Homem, o final das guerras entre povos e essas tretas todas que não aconteceram porque o mais importante na "abertura" da União Soviética era a entrada no mercado de entidades privadas. As Coca-Colas deste mundo só queriam ganhar dinheiro na Rússia, não promover a desenvolvimento social ou a paz universal e entendimento dos povos...



Outra era começou, não na geografia político-económica mundial, mas desta feita na música, quando às 7 da manhã de 29 de Agosto de 1991, o àlbum Nevermind foi tocado pela primeira vez uma rádio de Boston. Foi a estreia mundial de um disco que iria mudar a música na década de 90, senão mesmo a forma como os adolescentes encaravam a vida, ou pelo menos como se vestiam...



Neste mesmo dia, em 1991, o senhor de quem toda a gente fala por estes dias mas ninguém sabe onde pára, o Coronel Moammar Kadafi, inaugurava a primeira fase da obra mais megalómana do seu "reinado": Um pipeline para distribuição de água pelo país. O primeiro troço a ficar construído em 91 foi entre as cidades de Benghazi e Sirte. Benghazi, a cidade onde se iniciou a presente revolução, Sirte, a cidade-natal de Kadafi, o último bastião de resitência prestes a ser derrubado em 29 de Agosto de 2011...





Onde estavas em Agosto de 1991?

17 de Agosto de 1991





Há 20 anos atrás já tínhamos que levar com o Cavaco... em 1991, Cavaco Silva é o primeiro-ministro português em exercício. Entretanto, outro português, Nuno Bettencourt, lidera uns Extreme que colocam "More Than Words" nos lugares cimeiros dos tops de vendas. Era um tempo em que bandas do espectro mais heavy do rock o metal se dedicavam a compor baladas declaradamente pop e assim dominar os charts. 






Muita gente de 19 anos deve ter sido concebida ao som de "More Than Words" na noite de Sábado 17 de Agosto de 1991, provavelmente depois de uma hora e pouco no cinema, a ver Charlie Sheen parodiar Tom Cruise e o seu Top Gun com o hilariante "Hot Shots!"






Quando, por alguma razão ou por outra, abro a porta de baixo do armário dos objectos mortos (cartas e postais, fotografias e negativos, telemóveis antigos, auto-rádios velhos, K7s e CDs) encontro sempre o VHS original deste filme (também tenho o vinil do "More Than Words", curiosamente!) Foi, talvez, dos filmes que eu mais vi naqueles tempos, e está bem lá em cima em termos das minhas preferências comédicas de não-continuidade/paródia de todos os tempos, ao lado do Airplane (I e II), The Naked Gun (1, 2 1/2 e 33 1/3), Loaded Weapon e mesmo o Hot Shots - Part Deux. Quase de certeza que aquela k7 VHS nunca mais vai ser usada na vida, e isso é uma pena, mas é tão certo isso como eu tencionar não me desfazer dela nunca, em nome dos bons velhos tempos.






Dias de Escola (excerto)


(...)

No 9º ano fomos todos à psicóloga da escola. Ela devia indicar-me qual o meu futuro profissional. Ela perguntou:
– O que queres ser quando fores grande?
Eu disse:
– Ser actor.
Eu queria mesmo ser actor.
– Assim – continuei – posso sentir coisas reais, como nos filmes. Ter sensações e sentimentos.
Achava que as pessoas nos filmes é que eram reais.  

(...)




ponto número um: estou triste. acabar de ler este livro é como dizer adeus para sempre a um grande amigo que nos acompanhou durante um longo período da vida. Sim, porque, como acontece com qualquer livro de Henry Miller, a leitura de Sexus torna-se propositadamente demorada. Duas páginas são o suficiente para nos encher um dia de reflexões. Comida para pensamento, como dizem. e nisso Miller é O Mestre, ultrapassando quaisquer rótulos pornográficos ou obscenos que lhe queiram impingir. Sexus é um livro sobre a vida e tudo o que faz parte dela, mas também é um livro sobre a história singular de um homem torturado pela contradição de querer tudo e de ambicionar nada.
Adeus, grande amigo...

ponto número dois: é apenas o primeiro volume da trilogia!

ponto número três (off topic)... é muito mais triste perder uma amiga :( 

Na Cidade (excerto, in Sonhando o que te contarei mais tarde)



― Não é motivo suficiente? Tem em conta a época em que isto se passou. Aliás, nem que fosse hoje, seria sempre uma desonra para qualquer família.
― Mas não achas que a devemos tratar como uma pessoa, que ela é, ainda por cima da família? Ninguém merece ser rejeitado pelo que é. Não fez mal a ninguém.
― Lá isso é verdade.
― Mesmo que as pessoas ficassem sentidas, ou mesmo perturbadas com o comportamento dela, não será altura de acontecer um qualquer processo de cura, ou perdão, cicatrização?
― Não sei, meu. Nem quero pensar nisso. Por que é que achas que eu saí daí? Babilónia, mano. Muita confusão. Muito problema. Sabes o que odiava na cidade? Não era o barulho, os carros a apitar, os autocarros que, ao passarem, abanavam o prédio, os bêbedos na rua aos gritos, que não deixavam ninguém dormir. Não era isso. O que eu odiava era o modo como as pessoas não se davam umas com as outras. As discussões. Os preconceitos. A falsa moral. Opressora e hipócrita. A cidade é isso, para mim, mano, e tão cedo não me apanhas a viver aí. Não sei como ainda consegues. Quanto ao resto, não me interessa se a Z. era santa ou puta, empregada doméstica ou drogada. Isso é a vida dela.







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Fear and Loathing in Las Vegas by Hunter S. Thompson




Fear and Loathing in Las VegasFear and Loathing in Las Vegas by Hunter S. Thompson




reading the book after watching the movie may cause some troubles for some people, mainly because it cuts your imagination off. You've seen the actors portraying the characters and you get stuck on those mental images. On the other hand you seem to know how the story evolves and just lose interest.

Luckily, this hilarious book by Hunter S. Thompson worked for me even after watching the movie. I must admit the actors chosen for the movie and the images i remembered seem to be pretty faithfull to the book. it was like seeing the movie in my head again, but with more info and interesting thoughts about the political/cultural background or the drugs sub-world in America. The effects caused by the drugs at a given time are described in a vivid and relentless way, wich takes us to the movie, but add much more to it. But then again, it's been a while since I've seen the flick, so much of the story came by as a surprise. I think the movie is more of an images thing and only on the book you can perceive the story behind it all. The two artistic objects seem to complement eachother very well, but it is the book that gives you the access to that American Dream Hunter S. Thompson was so actively searching, and with a dose of humour that you didnt know wether it was deliberate in the movie or not. It was...





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O Anjo Azul

O Anjo Azul (excerto, in Sonhando o que te contarei mais tarde)

(...) Bem, tu nunca me usaste, e eu nunca te usei. Excepto daquela vez em que tu te engasgavas com o teu corpo e eu emprestei-te o meu e tu ficaste contente. Eu sabia que tu ias ficar bem vestida de mim! Eu é que nunca consegui. Isso tirou-me a paz toda que o mundo necessitava. Como num baile negro, tu vieste vestida de  preto de cima abaixo. “Eu só me quero sentir dentro de ti. Só quero ser o teu coração a bater, os teus olhos para me ver, quero perder qualquer coisa dentro de ti para lá voltar outra vez. E farei tudo isso por ti, não por mim…” Disse-te. (...)

Best Song Ever

a primeira música de SY que ouvi, a meio dos anos 90. ainda hoje a minha favorita

José Mário Branco - FMI (fevereiro de 79)

Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, vi-me na cozinha, vi-me na casa-de-banho, vi-me no Politeama, vi-me no Águia D'ouro, vi-me em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te orgulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandi, olha o Muchê Dyane que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o astro, não é filho? O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus botões: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? Ah-ni-qui-bé-bé, ah-ni-qui-bó-bó, tu és 'Sepuldra' tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala e ritmo de pop-xula, não é filho?
A one, a two, a one two three

FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! Come on Luís Vaz, 'amanda'-lhe com os decassílabos que os senhores já vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos, malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah?

FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marraças, Marraças, fora o arbitro, gatuno, bora tudo p'ro caralho, razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Teng Hsiao-Ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, arrefinfa-lhe o Bruce Lee, arrefinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o euroscópio, dois ou três ofeneologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-xula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, zórpila o fígado, arreda, 'terneio' Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...

Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...

Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de lava-colhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.

Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.





O Prisioneiro (primeiro parágrafo)

Não sei que crime cometi. Sei que me meteram nesta prisão. Recordo-me perfeitamente do dia em que cá entrei. Os outros prisioneiros, envoltos em farrapos amarelecidos, os guardas sérios e demasiadamente silenciosos. E as perguntas que os outros me faziam: que fizeste para te porem cá? Eu não sabia. Era como se toda a minha vida anterior tivesse caído num vazio amnésico, despida totalmente de pormenores. Lembrava-me de viver, de ter uma vida como as outras pessoas, extenuante mas sem significado. Não me perguntem detalhes, era uma vida genérica, prescrita por um gerador aleatório de recordações para me fazer crer que um espaço de tempo dado, entre o meu nascimento e a minha entrada naquela prisão, fora preenchido por acontecimentos memoráveis, embora vagos e abstractos. De que serviria ter alguma coisa de concreto para me agarrar mentalmente, se nunca o poderia fazer? Tudo o que fosse uma cara minuciosamente descrita, uma tarde na praia com aquelas pessoas, um nascimento de um filho, teria de ser indiferente, pois um sítio como uma prisão não se compadece com desejos de posse, de liberdade ou de saudade.

E foi assim que matei o filho da puta (excerto)

(...)
domingo, 12:23

Então… Ontem à noite encontrei-me com o Mauricinho para uns copos. Um copo, apenas, devia ter sido, porque hoje tive de me levantar às 10. Mas já devia saber como são as coisas quando eu e o Maurício vamos tomar um copo juntos. Transforma-se tudo numa longa noite de vinho, cerveja e whisky, combustíveis primários para a corrida interminável que é a nossa fuga àquele normal estádio de consciência que tanto nos parece aborrecer.
Eu bem lhe disse que tinha de trabalhar hoje, mas ele pareceu não fazer caso. Eu também não devo ter insistido muito. Logo após os primeiros copos de vinho do porto, ele percebeu que eu me ia deixar levar se ele forçasse um pouco. Apenas disse que não às primeiras investidas por descargo de consciência. Quando comecei a beber whisky, logo me libertei o suficiente para desejar que a noite não acabasse.
O café onde estávamos fechou às 3 da manhã. Saímos de lá bem encharcados e, pensei eu, dirigíamo-nos para casa, até chegarmos à entrada para a auto-estrada e o Maurício começar a abrandar e a dar o pisca para a direita.
— É para ir, não é – ele perguntou-me. Uma pergunta retórica.
— Claro, estás à espera de quê?
— Pensei que ias trabalhar amanhã.
— E vou.
E vim.
(...)

Alucinogénese (excerto)

 Os restos da noite amontoavam-se
nos sofás decadentes.

9 da manhã.

Destroços que foram os
 festeiros de uma noite efusiva.
Puta que os pariu.
Amontoados.
No chão, uns em cima dos outros.
Beijos roubados.
Chavalas com sono.
Sonolentas.
Carícias dormentes.

— Cala-te, ela disse.
— Beija-me, ele disse
— não, ela respondeu
— hmpf – ela ameaçou com os lábios dele colados aos dela…

E deixou-se ir…

Book of the Week

funny gifs - See? It could always be worse

Ricky Gervais' inspiration



Jesse Heiman: World's Greatest Extra

Hollywood's biggest cliché: enhance!



can You enhance it?

Goodreads

a minha mais recente aproximação a uma rede social chama-se goodreads.com e, essencialmente, permite-nos trocar recomendações de livros com outros users. a internet 2.0 é isto: somos uns pequenos críticos com a febre do rating.
confesso que o site ganhou-me pelo seu interface fácil e intuitivo. User-friendly q.b., tem também o apelo da imagem, pela forma das coloridas miniaturas das capas dos livros. Um site essencial para quem tem a paixão dos livros.



www.goodreads.com

New Kid on The Block?

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Sarah Kay @ TED

On Chesil Beach





Quem já leu Ian McEwan sabe que não se consegue ficar indiferente a um livro do mestre inglês (excepto talvez Amsterdam). É aquele entrar-por-ali-dentro-das-personagens que nos faz delirar com a similaridade psicológica que une todas a a humanidade, mas ao mesmo tempo as separa. On Chesil Beach temos mais disso, mais identificação, mais envolvência; ansiedades, nervosismos, excitações e tristezas que sentimos na pele, causados por situações que têm o seu quê de familiares, apesar de nunca termos passado exactamente por elas.

On Chesil Beach leva-nos até 50 anos atrás, uma Inglaterra à beira da mudança social (e sexual), mas acima de tudo, leva-nos à confusão interior que todos sentimos em determinados momentos da nossa juventude. É querermos iniciar-nos no mundo adulto, positivamente anestesiados com a euforia da novidade, mas, em simultâneo, temerosos do desconhecido e da perda de algo que não sabemos ainda explicar. Edward e Florence estão numa posição dessas: recém-casados mas sem qualquer experiência sexual vêm-se forçados a lidar com as suas imagens exteriores de pessoas escolarizadas e supostamente conhecedoras dos hábitos do mundo, embora interiormente, como nos é dado a ver, sejam apenas sofram duma inadequação tal, normal aliás, tendo em conta a época e os costumes, que só nos resta rir dos momentos hilariantes e sentir pena dos enganos que levam à confusão e inseguranças. Tudo isto numa tarde de lua-de-mel num hotel de Chesil Beach, intercalada com flashbacks dos momentos mais importantes da vida do casal até então.

Sempre fui da opinião que há momentos e momentos para lermos um livro. Um jovem adolescente que leia On Chesil Beach vai tirar conclusões diferentes das de um quarentão. No meu caso, creio que fico tão excitado com certas passagens como um adolescente ficaria, com o bónus de não me deixar abater tanto pela melancolia como um velho se deixaria. Há um certo tom de esperança que se instala aos poucos na nossa mente, depois de uma certa revolta, quando terminamos de ler o livro. Essa esperança talvez signifique que ainda podemos fazer alguma coisa da nossa vida, apesar de erros passados, um pouco como o Mr. Scrooge nos Christmas Carrols. No entanto não me parece que a intenção do velho Mac fosse dar lições de moral, mas apenas contar (mais) uma bela e pungente história. Nós é que retiramos as nossas interpretações dos nossos armários sempre que vemos nalguma obra de arte um sinal para compararmos as nossas vidas com a ficção idealizada. Pensamos demais, isso é o que é. E isso é arte.

Sleepwalkers

1. Insónia

São quatro da manhã. Acordo de um sonho mau. Um sonho que simplesmente é a minha vida. Mas esperem, a minha vida não é um sonho, é real demais. Antes fosse um sonho e eu pudesse acordar no dia seguinte, para um normal dia de primavera, abrir os olhos, beijar a minha linda mulher na testa, tomar um duche, pequeno-almoço com os filhos, deixá-los na escola e dirigir-me para um emprego que adoro. Essa é a vida que me espera quando acordar, por certo. Entretanto, estou metido nesta vida, à qual tenho dificuldade em me adaptar.

Não é o viver em si, não me interpretem mal. Adoro viver. Adoro. Está acima da minha vontade. É para isso que existo: viver. Pretendo fazê-lo o mais tempo possível e não tenho de dar explicações a ninguém sobre isso.

Mas já que perguntam, aí vai. Adoro aquelas coisas da vida que só com o tempo fazem sentido. Saber que aquela pessoa está lá, mesmo que não tenha de estar todo o tempo com ela. Estar 10 anos sem falar com alguém e, de repente, a meio da noite, pegar no telefone e dizer-lhe olá. Quero estar vivo daqui a dez anos para fazer esse tipo de coisas, porque, simplesmente, hoje não consigo falar com ela. Nem amanhã, nem na próxima semana. Nem nos próximos meses. Nem nos próximos anos, provavelmente.
Porque sim. Porque não precisamos de explicar todas as decisões ilógicas, estúpidas e idiotas que tomamos. Porque temos medo de magoar as pessoas com o que dizemos e então achamos melhor não dizer nada.
Faz parte da vida. E eu quero estar vivo daqui a 20 anos para lhe explicar o que se passou. Às vezes precisamos de tempo para entender aquilo por que estamos a passar. A distância é a melhor amiga do observador. Se estivermos muito perto de alguma coisa, não nos conseguimos aperceber da grandeza das suas dimensões. O planeta terra, por exemplo. Estamos tão perto dele que nem sempre nos apercebemos que é uma esfera gigantesca a girar no espaço a uma velocidade inimaginável. Se me dissessem, “queres viver num calhau em constante rotação sobre si mesmo, e a deslocar-se no espaço a 108.000 km por hora?”, eu era capaz de responder que isso, por certo, me poria mal disposto.

E, no entanto, cá estou. A curtir a viagem. E sei que quando fico enjoado, a culpa não é exclusivamente dos movimentos astronómicos do nosso planeta. Eu sei que devo ter exagerado na bebida ontem à noite. Eu sei que não posso andar na montanha-russa. Eu sei que não devo aproximar-me de um cadáver nauseabundo. Eu sei essas coisas que me deixam mal-disposto. E então, por que continuo eu a meter-me em situações que se vão virar contra mim? Só me posso culpar a mim mesmo, eu sei. Não adianta dizer que a culpa é da Terra, que se desloca no espaço rumo ao desconhecido e nós completamente alienados do facto que o universo se encontra em expansão, e que um dia isto vai acabar. Não adianta dizer que estamos tão perto dos problemas que não pensar com clareza e que só daqui a 30 anos é que vamos compreender por que estamos a agir tão estupidamente. Não adianta dizer que a culpa é da Mãe Natureza, por nos criar à sua imagem, funcionalmente imperfeitos, vivendo para além do dia de hoje, apesar de ser um dia mau, apesar das insónias, apesar de tudo, daqui a 40 anos estaremos cá para nos rirmos do passado e beijar a nossa linda e madura mulher, ao vermos os nossos netos brincar à nossa frente.